28 junho 2005

Palhaços

Ninguém viu quando a criança se aproximou da jaula. A mãe não viu; estava entretida demais com os palhaços a dar cambalhotas pelo picadeiro, a correr com as roupas em chamas enquanto outro se lançava sobre eles com um extintor de incêndio. Ninguém viu a criança ser atacada pelo leão, até que seus gritos de terror abafassem os risos e as palhaçadas.
Era indiferente a morte do leão pelas mãos do próprio domador. Indiferentes os choques aplicados pelas mesmas mãos que alimentavam o animal. Indiferença parida pelos gritos de uma criança. Grito de inocente que desconhece o mundo, atacado, que reduz a fera a nada.

"Atacaste um homem, uma criança e um inocente. Foste condenado à morte e àqueles que te amavam trouxeste a ruína. Deixes, pois, que te julguem a tua consciência, a de tua vítima e a do teu criador".

2 Comments:

Blogger Mac said...

Muito bom, este final em forma de citação resume bem a idéia central do tema.

00:01  
Blogger Fernanda Ribeiro said...

Sempre conciso e claro, sempre tão bom! Da simplicidade vem a arte, não vem?

00:34  

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