25 agosto 2005

Um abraço

Que sentido há quando se perde as esperanças? Não existe mais "pai", não existe mais "mãe", não existe mais "casa" e o irmão que me restava partiu para terras distantes. O que tenho, agora, é um resto de vida que não sabe se conhecerá amanhã. Ontem, hoje, amanhã é tudo a mesma coisa; eu não tenho destino, não tenho afazeres, apenas esse corpo que mantenho vivo sem saber porquê. Eis o que me resta: permanecer vivo; eis o que passa as longas horas dos meus dias.
Não é a fome nem a sede o que me atormenta, já as conhecia, já passei mais de um dia sem comer. Me dói é a solidão, é o estar só e o saber estar só no meio da multidão; é o estender os braços e me sentir um fantasma, não visto, intocável; é abraçar-me a um cachorro tão faminto quanto eu quando a noite esfria; é acordar no outro dia. Alvorada, a marcha continua.

Aprendi a dizer adeus e, obrigado a renunciar ao abraço de despedida, me lancei ao mar. Me pergunto: existe razão no desespero? Digo hoje em português "obrigado". Acredito: há.

1 Comments:

Blogger Mac said...

Não deveríamos todos renegar essa civilizaçõ ilusória e retornarmos aos primóridos do sentido da palavra homem? Esquecer tudo e preocuparmos somente com nossa sobrevivência. Afinal, o que é um Duvet e para quê ele é necessário apra a sobrevivência humana?

15:15  

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